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Calma, calma, não foi agora, isso aconteceu há 266 anos atrás.
Em Salvador, ondas gigantes alagaram Cidade Baixa após terremoto de Lisboa, em 1755.
O que parecia ser um tranquilo domingo transformou-se em uma catástrofe naquele 1º de novembro de 1755 em Lisboa, capital de Portugal. Terremotos de 8.5 a 9.0 na escala Richter devastaram a metrópole portuguesa, provocando, além de um tsunami, incêndios que serviram como um verdadeiro divisor de águas na história da cidade. O tremor foi tão grande que provocou um maremoto a 6,5 mil quilômetros dali, na segunda cidade mais importante do império português e principal cidade das Américas: Salvador. De acordo com o relato do arcebispo da cidade na época, Dom José Botelho de Mattos, era por volta das 15h quando ondas gigantes entraram na Baía de Todos-os-Santos.
O episódio aconteceu há 266 anos. Mas, esta semana, o temor de que algo assim acontecesse por aqui voltou às discussões após a notícia de que o vulcão Cumbre Vieja, nas Ilhas Canárias, costa africana, corre o risco de entrar em erupção, provocando um tsunami capaz de atingir a costa brasileira, sobretudo as praias do Nordeste – e da Bahia. O temor, na verdade, já existe há 20 anos, mas a possibilidade voltou a ser discutida diante da intensa atividade sísmica por lá. Embora real, ela é remota.
Uma nota técnica emitida por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba), da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e do Núcleo Bahia/Sergipe da Sociedade Brasileira de Geologia explica que apenas a erupção do Cumbre Vieja não seria suficiente para provocar um tsunami aqui. Seria preciso que parte da ilha onde fica o vulcão se deslocasse para dentro do oceano, provocando um grande deslizamento e um abalo que repercutisse na América. Em outras palavras, seria necessário um deslizamento muito significativo para que Salvador sinta, novamente, os reflexos de uma atividade sísmica do outro lado do oceano.
Por aqui, há 266, os sinais de que algo não estava normal chegaram pela região da Boa Viagem.
O especialista estima que o tsunami atingiu, ao menos, três metros de altura. Aqui vale um parêntese para explicar que a grande força dessas ondas gigantes não é a altura, mas sim a profundidade.
O Havaí, por exemplo, possui ondas que chegam aos 20 metros, mas não causam nenhum estrago, pois elas logo se dissipam. No caso do tsunami, a força deles é tanta que acabam penetrando o continente em grande velocidade, destruindo construções e alagando as ruas. Um tsunami de menos de um metro, por exemplo, já seria capaz de causar grandes estragos no Porto da Barra.
Cruzeiro
Pouco se sabe sobre os reais impactos daquele tsunami em Salvador. A principal informação é de que a cruz que fica em frente à Igreja da Boa Viagem, na Cidade Baixa, ficou parcialmente coberta pela água. A cruz está a 50 metros do mar e, ao menos, a dois metros acima do nível das águas. Toda aquela região da Cidade Baixa teria ficado alagada, afirma o pesquisador.
Ele recorre a uma carta escrita pelo arcebispo no dia 12 de maio de 1756, ao secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte-Real, na qual afirma que o Vice-Rei Conde dos Arcos havia acabado de chegar a Salvador.
Na mesma carta, ele faz um breve comentário sobre os efeitos na América do “horroroso terremoto” que atingiu Lisboa.
A modificação no comportamento das águas provavelmente assustou os moradores da cidade, que tinha 65 mil habitantes na época, que não souberam descobrir o motivo da alteração das águas na Baía de Todos-os-Santos. No entanto, não há registros de mortes ou acidentes em decorrência da onda gigante”, narra o professor.
De acordo com o relato do arcebispo, não foi só Salvador que sentiu as ondas gigantes. Ele também comenta o que se registrou em Pernambuco e no Rio de Janeiro.
“O mesmo se conta por certo sucedera no Bispado de Pernambuco, onde se diz (que) levara algumas senzalas dos pescadores. Do Rio se publica o mesmo e que em certas praias se ouvia um grande ronco, que dera o mar, de que os animais espantados fugiram sem parar até o mais alto dos montes”, finaliza a carta.